Lula ataca negacionismo e defende justiça climática na cúpula do BRICS no Rio
Presidente brasileiro critica países ricos, denuncia exclusão do Sul Global e propõe nova agenda ambiental e sanitária
07/07/2025 14:24
Rio de Janeiro – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez duras críticas nesta segunda-feira (7), na sessão “Meio Ambiente, COP 30 e Saúde Global” do Brics, alertando que o negacionismo climático e o unilateralismo estão “sabotando o futuro do planeta”. A fala surge horas após o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, ameaçar com uma tarifa de 10% qualquer país que “se alinhe às políticas antiamericanas do Brics”.
“Hoje, o negacionismo e o unilateralismo estão corroendo nosso futuro. O aquecimento global ocorre mais rápido que o previsto. As florestas tropicais se aproximam do ponto de não retorno. O oceano está febril. E o silêncio diante disso é cúmplice”, afirmou Lula, referindo-se à paralisia da governança internacional frente à emergência climática.
Lula voltou a cobrar independência tecnológica e econômica para os países do Sul Global, que historicamente foram relegados à condição de exportadores de insumos primários. “Precisamos acessar e desenvolver tecnologias para todas as etapas das cadeias de valor”, afirmou. Para ele, é hora de romper o ciclo de subordinação imposto pelos modelos econômicos globais.
O presidente não poupou críticas ao conluio entre grandes empresas e o sistema financeiro internacional. Segundo ele, cerca de 80% das emissões globais de carbono vêm de menos de 60 corporações, concentradas nos setores de petróleo, gás e cimento. “Os incentivos de mercado estão indo na contramão da sustentabilidade”, denunciou, citando o financiamento bilionário de bancos a projetos fósseis mesmo diante da escalada climática.
Além das questões ambientais, Lula defendeu a saúde como um direito humano fundamental. Disse que a pandemia escancarou a desigualdade no acesso à saúde, reforçando a urgência de fortalecer a OMS e combater o abandono das populações vulneráveis.
Ele anunciou a criação da Parceria pela Eliminação de Doenças Socialmente Determinadas, que vai integrar saúde, saneamento, habitação e educação em uma política pública coordenada. “Não há direito à saúde sem investimento real em bem-estar social”, afirmou.
Brics: bloco em expansão
O Brics, originalmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, reúne hoje também Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita, Emirados Árabes e Indonésia. Países como Bolívia, Cuba, Malásia, Nigéria e Cazaquistão atuam como parceiros.
O bloco defende maior equilíbrio geopolítico, reformas na ONU, FMI e OMC, e propõe alternativas como o Novo Banco de Desenvolvimento, conhecido como Banco do Brics.
Participam da cúpula no Rio, além de Lula:
• Sergey Lavrov (Rússia)
• Khaled bin Mohamed Al Nahyan (Emirados Árabes)
• Prabowo Subianto (Indonésia)
• Cyril Ramaphosa (África do Sul)
• Narendra Modi (Índia)
• Li Qiang (China)
• Abiy Ahmed (Etiópia)
• Moustafa Madbouly (Egito)
• Abbas Araghchi (Irã)