Prometia estágio pela UFF e Prefeitura de Niterói, mas sequer concluiu Pedagogia legalmente.
02/07/2025 17:03
Patrícia Cunha Vasconcellos de Freitas, dona da Escola Técnica Complemento em Niterói (RJ), é o novo nome exposto na série investigativa que deu origem à operação da Polícia Federal no último dia 11. Ela aparece em sistemas clandestinos de venda de diplomas universitários com um certificado falso de Pedagogia, supostamente emitido pela Universidade Estácio de Sá, com data de conclusão em 18 de dezembro de 2018.
A Estácio, por sua vez, confirmou de forma categórica que não há qualquer registro acadêmico em nome de Patrícia. A instituição declarou em nota: “Em virtude do elevado número de tentativas de falsificação utilizando o nome da instituição, foi criado um gabinete interno de auditoria e cooperação jurídica. A Estácio está reunindo casos antigos e novos ligados a diplomas fraudulentos e fará o envio sistemático às autoridades federais.”
Mais grave ainda é o local onde essa fraude foi cometida: dentro da própria escola que Patrícia dirige. Conversas extraídas de um telefone celular de um ex-integrante da rede criminosa mostram Patrícia negociando com membros da quadrilha e agendando o encontro para entrega e pagamento do diploma falso diretamente em sua instituição, localizada na Alameda São Boaventura.
Com a falsa titulação, Patrícia firmou convênios com a Universidade Federal Fluminense (UFF), com a Fundação Municipal de Saúde e até com a Prefeitura de Niterói. Tais acordos garantiriam supostos estágios aos alunos da Escola Técnica Complemento, que opera há anos oferecendo cursos técnicos nas áreas de Enfermagem, Análises Clínicas e Radiologia.
Mas o que os alunos encontraram foi outro cenário. Há anos se acumulam denúncias de estudantes que não conseguiram concluir o estágio prometido, o que inviabiliza o recebimento do diploma técnico. Reclamações se repetem em plataformas como o Reclame Aqui desde 2022, passando por 2023 e se intensificando em 2024 e 2025. As queixas variam entre evasivas da diretoria, desaparecimento de coordenadores e ausência de qualquer resposta concreta da administração — sempre sob a responsabilidade direta de Patrícia.
O Verificador teve acesso aos termos dos convênios assinados por Patrícia. O Termo de Cooperação Técnica nº 003/2023 autoriza que sua escola envie alunos para unidades da rede pública municipal de saúde. Mesmo com todos os alertas e reclamações em curso, não houve qualquer manifestação de ruptura por parte da Fundação Municipal de Saúde até o momento.
Esse tipo de autorização, concedida a uma gestora sem qualificação formal legítima, cria um risco sistêmico: alunos sem preparação adequada inseridos em estruturas de saúde pública, podendo comprometer diretamente a segurança de pacientes.
Em 2018, um outro convênio com a UFF também foi assinado. Não há indício de que a UFF tenha fiscalizado o histórico acadêmico da direção da escola antes de autorizar a parceria. É o retrato de como falhas institucionais permitem que falsários ocupem posições de confiança e disseminem práticas fraudulentas por meio de suas estruturas privadas.
A história de Patrícia se soma à lista crescente de casos revelados por O Verificador desde o início da série “Escândalo na Educação”. No último dia 10, expusemos o primeiro elo de uma cadeia que envolve diplomas falsos, registros profissionais ilícitos e interferência em instituições públicas. No dia seguinte, a Polícia Federal deflagrou sua maior operação contra esse tipo de crime, confirmando a gravidade do conteúdo investigado pela nossa equipe.
A fraude no caso de Patrícia Vasconcellos atinge um novo patamar, pois ela não apenas utilizou documentos falsos para benefício próprio — ela está, como responsável técnica, formando novos profissionais com base em uma mentira. Ela é a assinatura de contratos, a representante institucional e a pessoa que promete estágios que não se concretizam. Ela simboliza a corrupção que contamina a base da formação técnica no Brasil.
A cada nova denúncia publicada por O Verificador, mais peças se encaixam no quebra-cabeça que expõe a fragilidade dos processos de validação de títulos acadêmicos e de celebração de convênios públicos. A compra de diplomas se tornou uma indústria clandestina com tentáculos em conselhos, prefeituras, escolas e até mesmo dentro da Receita Federal, como já mostramos em outras reportagens.
Patrícia agora está no centro desse escândalo. E não há dúvida: seu nome estará para sempre marcado como um dos mais simbólicos dessa série. Na próxima edição, publicaremos os comprovantes de pagamento e trechos inéditos de ligações obtidas por nossa equipe, nas quais Patrícia conversa diretamente com membros da quadrilha responsável pelo fornecimento de seu diploma. Trechos que mostram, com todas as letras, que a diretora jamais foi vítima. Ela foi cliente.
O Verificador continuará avançando. E àqueles que tentam se esconder atrás de jalecos, diplomas emoldurados e promessas vazias: nós vamos encontrá-los. Um por um.
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