EXCLUSIVO | Juliana Pansardi: A influenciadora que forjou um diploma de medicina para enganar seguidores e tentar conquistar o título de médica
Com 187 mil seguidores e centenas de atendimentos realizados, a nutricionista Juliana Pansardi comprou um diploma falso de Medicina e tentou registrar-se como médica.
26/06/2025 17:21
Por Redação Investigativa – O Verificador
Juliana Pansardi não é apenas um nome conhecido em Cascavel, interior do Paraná. Ela se tornou símbolo de saúde, fertilidade e emagrecimento para centenas de pacientes e milhares de seguidores nas redes sociais, onde exibe um cotidiano de consultórios luxuosos, jalecos impecáveis, frases motivacionais e suposto sucesso profissional como referência nacional em saúde avançada. Mas todo esse verniz esconde uma farsa de proporções inéditas — e que agora começa a ser desmontada por O Verificador.
O império de aparências
O perfil de Juliana no Instagram, @jupansardi, e a página oficial do Instituto Juliana Pansardi LTDA (CNPJ 54.035.834/0001-61), remetem a um universo de expertise médica e credibilidade. Na biografia, ela ostenta até mesmo um número de CRM, “CRM21793”, sugerindo, deliberadamente,uma certa prerrogativa médica com registro ativo em sua pessoa.
A manipulação, porém, é refinada: o CRM existe, mas está vinculado à pessoa jurídica de sua clínica, não ao nome ou qualificação de Juliana como médica.
A operação que desmascarou o esquema
O início do fim para Juliana Pansardi veio por meio de uma das maiores operações já realizadas no país contra a fraude educacional. No último dia 11, a Polícia Federal deflagrou uma ofensiva nacional contra grupos criminosos que vendiam diplomas universitários falsos para obtenção de registro em conselhos de profissões como Medicina, Engenharia, Psicologia e Biomedicina. O nome de Juliana — até então vista como nutricionista e estudante de Medicina — surgiu nos sistemas derrubados durante a ação.
Nossa redação, em paralelo à investigação oficial, criou um Comitê de Apuração Independente. Assim, rastreamos o endereço digital das plataformas clandestinas usadas para fabricar e validar diplomas em nome da Universidade Estácio de Sá. Lá, entre arquivos ocultos por camadas de segurança precária, estava Juliana: ostentando um suposto diploma de Medicina, supostamente emitido em novembro de 2024. Documento completamente falso — mas autenticado com selos, assinaturas digitais simuladas e, depois, enviado ao CRM por meio de intermediários sem ciência da fraude.
A mecânica da enganação
Documentos e conversas interceptadas mostram detalhadamente como Juliana tentou, passo a passo, legalizar sua mentira: da compra do diploma forjado, à tentativa concreta e documentada de registro no CRM, sempre amparada por despachantes e terceiros que, em alguns casos, nem imaginavam a origem criminosa dos papéis. Em backups recuperados do grupo investigado por nossos repórteres investigativos, aparecem mensagens de Juliana às vésperas da fraude, temendo ser descoberta em Cascavel — onde muitos conheciam sua trajetória universitária real, ainda em andamento, e sabiam que ela sequer havia concluído o curso.
As investigações também revelaram que, em fevereiro de 2024, Juliana abriu formalmente o Instituto Juliana Pansardi LTDA para “atendimentos médicos e exames complementares” — não para nutrição, nem para estética. Tudo meticulosamente planejado para dar lastro a uma carreira fictícia.
Fraude familiar: um laboratório de mentiras
O escândalo não parou em Juliana. Apuramos que ela articulou simultaneamente com o mesmo grupo de falsários a compra de um segundo diploma, agora para o marido, Victor Alexandre Franco de Carvalho. O histórico de Victor já contava com graduação legítima em Engenharia Elétrica pela UFF (1996) e alegações de mestrado e doutorado em andamento. Mas o novo diploma, de Engenharia Mecânica, também foi obtido no mercado clandestino de títulos, e usado numa tentativa de registro junto ao CREA.
Trocas de mensagens entre Victor, Juliana e o grupo criminoso revelam o modus operandi: envio de dados pessoais, agradecimentos pela rapidez e instruções para submeter os documentos a conselhos profissionais, tudo com o IP de Cascavel — mais uma prova direta da origem das tentativas de fraude.
Rastreando culpas e riscos: a face real do perigo
Enquanto investigações avançam, Juliana continua a alimentar os perfis sociais com vídeos, declarações e postagens que sugerem atendimentos médicos, protocolos hormonais e novas tecnologias em saúde. Com médicos e influenciadores compondo seu círculo (como a dermatologista Dra. Danielle Bonatto, que aparece publicamente ao seu lado), ela coleciona depoimentos e “histórias de superação” — enquanto os seguidores ignoram a gravidade do risco a que podem estar submetidos: consultas, prescrições e diagnósticos realizados por quem nunca concluiu Medicina.
A tentativa de mascarar a ilegalidade sob camadas de marketing digital e frases inspiradoras escancara um dos pontos mais sensíveis: até onde vai o perigo para pacientes que entregam sua saúde a falsos especialistas, e quantos outros casos semelhantes existem espalhados pelo Brasil? O escândalo Juliana Pansardi — assim como a tentativa de “laboratório de fraudes” familiar — é só a ponta de um iceberg que ameaça a integridade sanitária do país.
A queda de uma farsa — e o compromisso com a verdade
Comprovar a extensão do golpe foi possível graças ao rastreamento criterioso de sistemas, backups e comunicação digital. A tentativa de registro junto ao CRM foi real. O diploma era totalmente forjado. Os riscos, palpáveis. Apenas porque O Verificador foi mais rápido, a população de Cascavel e arredores não está, hoje, nas mãos de uma falsa médica.
No centro da questão está menos o talento individual para mentir e muito mais o sistema que permite, ainda hoje, que títulos falsos abram porta em profissões vitais. Juliana Pansardi não enganou só os seguidores. Ela tentou enganar o Estado, os conselhos profissionais, todo o sistema de saúde e de fiscalização. E, como ela, dezenas — talvez centenas — de nomes virão à tona nas próximas semanas.
O Verificador seguirá apurando. Porque no fim desta série, não será possível mais alegar desconhecimento ou tratar fraudes como essa como “casos isolados”. O país precisa olhar de frente para a extensão desse crime organizado. E impedir que outras Julianas tratem, sem preparo, a vida de todos nós.
Próximo capítulo: as provas: Confira a partir desta quinta-feira a divulgação das conversas entre os envolvidos, áudios obtidos e comprovantes de transferências