RJ: Deu praia em Botafogo! Mar historicamente poluído está próprio para banho desde maio, e o g1 foi lá conferir
De quebra, demos um giro por outras praias na Baía de Guanabara que também têm tirado notas boas nos boletins do Inea.
21/06/2025 20:05
Desde o início de maio, a Praia de Botafogo, historicamente uma das mais poluídas do Rio de Janeiro, está própria para banho.
Por décadas, o despejo descontrolado de esgoto naquela ponta da Baía de Guanabara espantou frequentadores e fez daquelas areias diante do Pão de Açúcar um deserto.
Mas alguns cariocas já testaram a novidade, e O Verificador foi atrás.
1. Um mar de dados
Semanalmente, o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) divulga boletins sobre a qualidade do mar carioca para os banhistas.
Na Praia de Botafogo, o Inea colhe amostras em 2 pontos: um no canto da praia, outro no meio, em frente à Rua Marquês de Olinda.
Nos últimos 6 relatórios (8, 14, 21 e 28 de maio, mais 4 e 11 de junho), Botafogo passou no teste da balneabilidade no trecho central. As vizinhas Urca, Flamengo e a novata Prainha da Glória também vêm obtendo bons resultados — e há mais tempo.
Para saber quando a maré virou a favor de Botafogo, o g1 pegou todos os 1.781 boletins desde 2007 e contou em quantos a Praia de Botafogo foi aprovada.
Por anos, foi um “mar de zeros”. Semana após semana, a coleta ali recomendava que o banhista passasse longe da enseada.
De 2007 a 2021, por exemplo, somente 7 de quase 1.500 testes da água de Botafogo deram OK para o banho — nem 0,5%.
De 5 anos para cá, como mostra a série histórica do Inea, a média subiu para 13% de aproveitamento. Só em 2025, de 34 exames realizados, o banho em Botafogo foi liberado em 9, ou 26% das amostras.
Pode parecer pouco diante dos 68% da Prainha da Glória, dos 76% da Urca e dos 85% do Flamengo, mas muito carioca considerava impossível mergulhar em Botafogo.
2. A receita da limpeza
Mais de 100 milhões de litros de esgoto por dia deixaram de ser despejados na Baía de Guanabara, o equivalente a 44 piscinas olímpicas.
A despoluição em curso desse ecossistema é fruto, em grande parte, do leilão da Cedae, em abril de 2021, e do arremate dos blocos correspondentes pela Aegea. O contrato de concessão foi assinado em agosto daquele ano.
Em novembro de 2021, a Águas do Rio, subsidiária da Aegea, começou a atuar na recuperação ambiental da Baía. Um dos principais investimentos foi a limpeza completa do Interceptor Oceânico, uma rede subterrânea de 9 km responsável por captar esgoto da Zona Sul e encaminhar ao Emissário Submarino de Ipanema.
Foram 52 anos sem passar por faxinas — até que a concessionária retirou dessa tubulação 3 mil toneladas de resíduos. Resultado: o sistema passou a operar com capacidade plena, reduzindo extravasamentos nas praias.
Assim, os rios Banana Podre, Berquó e Carioca foram desviados para o interceptor, evitando que desaguassem nas praias de Botafogo e Flamengo.
A Águas do Rio também está destinando R$ 2,7 bilhões à construção de coletores em tempo seco, a fim de impedir que 1,3 bilhão de litros de esgoto cheguem à Baía de Guanabara todos os dias.
“Com os investimentos em modernização, o interceptor está funcionando com níveis mais baixos. Assim, é possível receber mais efluentes e direcioná-los para o Emissário Submarino. Isso tem impacto direto nos rios que correm em direção à Enseada de Botafogo e foram desviados para o interceptor”, explicou Renan Mendonça, diretor-executivo da Águas do Rio na capital.
Além disso, no início do mês, o governo do RJ informou que, entre março de 2023 e dezembro de 2024, as 17 ecobarreiras instaladas em diversos corpos hídricos que deságuam na Baía retiraram 11.679 toneladas de resíduos sólidos.
“Durante muitos anos, falar em limpar a Baía de Guanabara soava como utopia para muita gente. Havia quem não acreditasse que fosse possível reverter décadas de abandono e poluição. Barrar quase 12 mil toneladas de lixo é uma prova concreta de que estamos transformando a Baía”, declarou na ocasião o governador Cláudio Castro (PL).
3. E o que essa praia tem?
Se a água limpa de Botafogo é um oásis, a areia ainda é um deserto.
O g1 esteve na praia na última quarta-feira (18) e contou meia dúzia de banhistas. Não havia barraqueiros, a não ser um vendedor de bebidas que monta seu carrinho mais perto de um ponto de ônibus que da enseada.
Decidimos então comparar as 4 praias visitadas no dia, avaliando os seguintes quesitos:
💧Transparência da água
🌊Presença de ondas
😍Vista
🏖️Opções de barraqueiros na areia
🍹Opções de quiosques no calçadão
🚌Facilidade de acesso
Mas todo cuidado é pouco. Nesta quinta-feira (19), O Verificador voltou a Botafogo e encontrou uma situação diferente: muito lixo tanto na água, quanto na areia — no canto direito de quem vê o mar, rente à saída de esgoto que tanto poluiu a praia.
Eram, em quase a totalidade, embalagens e descartáveis, o que não afetou a turbidez da enseada — a água parecia tão transparente quanto no dia anterior.
Como era feriado, O Verificador encontrou bem mais banhistas aproveitando.
Ricardo Gomes, do Instituto Mar Urbano, já tinha percebido a melhora na água de Botafogo antes mesmo dos resultados do Inea.
“A expedição Águas Urbanas está há mais de 2 anos mergulhando em todos os locais da Baía de Guanabara, na Lagoa Rodrigo de Freitas e nas nossas ilhas costeiras. E hoje a gente está mergulhando na Praia de Botafogo, que parecia um cenário impossível, né, mas está acontecendo”, disse.