Ministro deu 24 horas para defesa justificar atos do ex-presidente. Encontro político buscou articular retaliação ao Supremo
“Estou aqui porque sou inocente. É uma covardia com um ex-presidente da República.”
A declaração de Jair Bolsonaro, feita diante de deputados da oposição na Câmara, foi lida como afronta direta ao Supremo Tribunal Federal. Três dias após ser proibido de se manifestar nas redes, o ex-presidente reuniu aliados, exibiu a tornozeleira eletrônica à imprensa, criticou abertamente as restrições impostas e sugeriu uma reação política organizada contra a Corte.
O gesto, combinado com prints de postagens que circularam online, motivou o ministro Alexandre de Moraes a intimar a defesa de Bolsonaro a explicar o descumprimento da medida cautelar. O prazo é de 24 horas, sob risco de prisão.
“A vedação inclui transmissões ou retransmissões em redes de terceiros, sob pena de imediata prisão”, alertou Moraes no despacho de segunda-feira.
O ex-presidente responde por tentativa de golpe e, segundo a Polícia Federal, articulava junto aos EUA sanções contra autoridades brasileiras — fato que embasou as medidas mais duras da semana passada.
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Reação articulada e clima de retaliação
Durante reunião com cerca de 50 deputados federais, Bolsonaro definiu três frentes de ataque ao Supremo: anistia aos golpistas do 8 de janeiro, avanço de propostas contra o STF e pressão por impeachment de ministros. O evento, ocorrido no gabinete da liderança do PL, foi interpretado por juristas como tentativa de coação institucional.
Embora tenha cancelado entrevistas, Bolsonaro usou o ato político como palco para reforçar seu discurso de perseguição. O tom adotado — descrito por deputados como “vou até o fim” — evidenciou sua disposição para o embate, mesmo diante de um cerco judicial crescente.
Enquanto isso, a PF concluiu que o pen drive encontrado no banheiro de sua casa não traz elementos relevantes, mas confirmou que foram apreendidos R$ 7 mil, US$ 14 mil e seu celular pessoal.
A crítica de Moraes e a ameaça de prisão elevam a crise entre Poderes a um novo patamar, com possível desfecho judicial em breve.