Herdeiro de bilionário, Walter Salles defende taxar grandes fortunas em cerimônia no Copacabana Palace
Diretor de “Central do Brasil” e um dos homens mais ricos do país, Salles fez apelo por justiça social e apoiou publicamente a reforma tributária de Lula que mira os super-ricos
13/07/2025 19:05
O cineasta Walter Salles, aclamado por obras como Central do Brasil e Diários de Motocicleta, surpreendeu parte da elite carioca na noite deste sábado (13) ao usar sua visibilidade para defender um tema ainda tabu entre os bilionários brasileiros: a taxação das grandes fortunas.
Durante a cerimônia do prêmio Faz Diferença, realizada no luxuoso hotel Copacabana Palace, Salles foi homenageado como uma das personalidades do ano. Em seu discurso, ao lado da atriz Fernanda Torres, ele defendeu explicitamente a justiça tributária e a necessidade de enfrentar os privilégios estruturais do sistema fiscal brasileiro.
“Bernard Appy estava aqui em cima e nos lembrou que temos a chance de construir um país mais justo e igualitário, corrigindo as distorções de um sistema que, como a gente sabe, cobra mais de quem tem menos. Então quero deixar aqui todo o meu apoio à tributação progressiva, à taxação das grandes fortunas e à democracia com justiça tributária”, declarou, sob aplausos parciais e olhares discretos de desconforto entre parte da plateia.
A fala de Salles não é trivial. Ele é herdeiro direto de Walther Moreira Salles, fundador do Unibanco, e aparece com frequência nas listas das maiores fortunas do país. Segundo a revista Forbes, a fortuna da família Salles é estimada em cerca de 25 bilhões de reais — o que torna a defesa pública da taxação dos mais ricos um gesto raro, embora coerente com o histórico humanista de suas produções cinematográficas.
O momento da declaração não poderia ser mais simbólico. Em Brasília, o governo Lula trava uma batalha com o Congresso para aprovar uma reforma tributária que visa aliviar a carga sobre os brasileiros que ganham menos de cinco mil reais por mês, ao mesmo tempo em que propõe um imposto mínimo de 10% sobre cidadãos com renda anual superior a um milhão de reais.
A proposta, que pode beneficiar até 15 milhões de brasileiros, enfrenta resistência de parte da elite política e econômica. Mas o gesto de Salles — um bilionário que defende publicamente pagar mais impostos — pode ajudar a quebrar o silêncio de outros nomes do alto escalão financeiro e artístico.
Com a desigualdade social voltando a ocupar o centro do debate nacional, a fala de Walter Salles mostra que é possível que parte da elite compreenda a urgência de corrigir distorções históricas e caminhar para um pacto mais justo de solidariedade fiscal no país.