Por O Verificador
A reportagem de O Verificador teve acesso exclusivo a uma nova frente da rede criminosa que falsifica diplomas universitários no Brasil. Trata-se de mais um caso alarmante: Luiz Marciano Pereira Junior, 42 anos, morador do bairro Lauzane Paulista, na zona norte da capital paulista, encomendou um diploma falso de Engenharia de Produção em abril deste ano — e em apenas seis dias já ostentava o título de “engenheiro formado em 2018” em seu perfil do Linkedin.
As mensagens trocadas entre Luiz e os intermediários da quadrilha são diretas, reveladoras e comprometedoras. Elas mostram que em 04 de abril de 2025, Luiz entra em contato com os falsificadores, fecha o negócio no valor de R$ 6.800,00 e, dias depois, recebe o diploma fraudado em nome da Universidade Estácio de Sá, com data retroativa de conclusão do curso em 2018.
A preocupação é pertinente — e incriminadora. A empresa a que ele se refere é a Modular Data Centers, localizada em Santana de Parnaíba (SP), onde Luiz trabalha desde 24 de outubro de 2022. O áudio mostra que ele reconhece o risco de ser desmascarado, mas não demonstra arrependimento. O problema, para ele, não é ter cometido o crime — e sim ser descoberto.

Um crime consciente, meticuloso e sem arrependimento
A transferência da primeira parte do pagamento foi feita em 07/04/2025, para Lucas Emanuel Rios Lapa, integrante da quadrilha. Lucas reside na Baixada Fluminense, em uma área sob controle da facção criminosa Comando Vermelho, segundo apuração da equipe. A segunda parcela foi transferida para Paulo Ricardo Magalhães, outro operador do esquema.


Luiz não foi enganado. Ele não caiu em nenhum golpe. Ele negociou, pagou, recebeu e assinou. O diploma que ele ostenta — e que será exibido nesta reportagem — está em posse da nossa equipe, com seu nome, assinatura e informações falsas. Ele cometeu falsidade ideológica com dolo, com o objetivo claro de enriquecer profissionalmente e tentar obter registro junto ao CREA/SP como engenheiro de produção.
A verdade incomoda: quando confrontado, fugiu
Nesta sexta-feira, às 19h40, nossa produção entrou em contato com Luiz Marciano por telefone. Fingindo inicialmente tratar-se de uma proposta de emprego para engenheiro de produção, o produtor Alex Teixeira foi recebido com desconfiança. Quando revelou ser da redação do O Verificador, Luiz perdeu o controle da conversa.
Disse que já possuía advogado, que era “vítima de um golpe” e que tudo já havia sido “encaminhado à Justiça”. No entanto, ao pesquisarmos nos sistemas do Tribunal de Justiça de São Paulo, do Conselho Nacional de Justiça e demais bancos judiciais, não encontramos qualquer processo em que Luiz apareça como parte lesada ou vítima.
Ao ser convidado para uma videochamada com nossa equipe para dar sua versão dos fatos, Luiz desligou abruptamente a ligação.
Foi concedido um prazo até a noite de hoje para que seu advogado entrasse em contato com a produção. Nenhum contato foi feito.
As instituições começam a reagir
Contatamos oficialmente a Universidade Estácio de Sá, que informou, com veemência, que o diploma apresentado por Luiz Marciano é falso, e que a universidade está tomando medidas para bloquear o uso indevido de sua marca em documentos forjados.
O CREA/SP, por sua vez, confirmou que recebeu denúncias sobre o caso e afirmou que incluiu o nome de Luiz Marciano em seu sistema interno de prevenção de fraudes, o que impede qualquer registro futuro até conclusão das investigações.
Tentamos ainda contato telefônico com a empresa Modular Data Centers, onde Luiz trabalha, mas, devido ao horário, não houve resposta. Nova tentativa será feita na próxima segunda-feira.
Criminosos com crachá de funcionário
O caso de Luiz Marciano é especialmente grave por dois fatores:
- Ele sabia perfeitamente que estava adquirindo um documento falso e agiu de forma meticulosa para tentar legalizá-lo.
- Ele continua empregado, usando a suposta formação para se manter em posição de vantagem, enganando seus colegas de trabalho, superiores e a sociedade.
A facilidade com que ele “se formou” em seis dias, pagando R$ 6.800, escancara o quanto o sistema brasileiro está vulnerável a criminosos travestidos de profissionais.
A série continua
O Verificador seguirá revelando os rostos e nomes dos que, com consciência e premeditação, compram títulos universitários para se promover. Eles não são vítimas. São cúmplices. São fraudadores. São ameaça direta à credibilidade profissional e à segurança da sociedade.
A série especial iniciada em 10 de junho de 2025 já expôs engenheiros, médicos, biomédicos e psicólogos falsificados. A cada capítulo, novos nomes serão revelados.
E se você trabalha com Luiz Marciano, ou o conhece, saiba que ele não se formou. Ele comprou.
“Tenho medo de como vou apresentar esse diploma na empresa… vão achar estranho eu ser formado desde 2018 e nunca ter dito nada”, disse Luiz em áudio que integra o acervo da reportagem e que será disponibilizado em vídeo."
Áudio: Luiz Marciano confessa preocupação em apresentar o diploma falso.
Esta matéria é parte da série investigativa Escândalo na Educação — Diplomas Comprados
O conteúdo aqui exposto é resultado direto do esforço investigativo autônomo de O Verificador. Nossa equipe atua de forma independente, infiltrando-se em redes criminosas, forçando acessos estratégicos, sequestrando contas de WhatsApp e invadindo servidores utilizados por fraudadores para burlar o sistema educacional brasileiro.
Foi a partir da primeira publicação da série, no dia 10 de junho de 2025, que uma operação de escala nacional da Polícia Federal foi deflagrada já no dia seguinte, em 11 de junho, confirmando o impacto e a veracidade dos fatos levantados por nossa redação.
Desde então, publicamos semanalmente novos capítulos desta série, sempre baseados em provas digitais, transações bancárias, documentos internos e capturas diretas de comunicações criminosas.
Caso Fantástico: prisão do falso médico começou aqui
Graças às denúncias publicadas por O Verificador, o caso do falso médico Fernando Henrique Dardis ganhou repercussão nacional. Ele foi preso após o início de nossas investigações e posteriormente exposto em reportagens especiais do programa Fantástico, da TV Globo, veiculadas nos dias 23 e 30 de junho.
Dardis atuava com diploma forjado, foi responsável pela morte de uma paciente e tentou forjar a própria morte para escapar da Justiça. O documento falso de óbito chegou a ser registrado em cartório. Toda a fraude foi desmascarada por nós — com rastreamento de sites, domínios, servidores e documentos adulterados usados por ele.
Alvo de hoje: Luiz Marciano
A matéria que você leu faz parte desse mesmo esforço. O falso engenheiro de produção Luiz Marciano comprou diploma por WhatsApp e pretendia obter o registro de Engenheiro de Produção junto ao CREA-SP
Ninguém é inalcançável
O Verificador não é um portal convencional. É uma estrutura estratégica, integrada por jornalistas, programadores, delatores e servidores anônimos comprometidos com a verdade. Atuamos com tecnologia, vigilância e planejamento. Nossos alvos estão sendo rastreados. Os próximos nomes — inclusive políticos — já estão identificados.